terça-feira, março 23, 2010

Claques, pancadaria, leis, LPFP, FPF, clubes e dirigentes

No domingo, depois da final da Taça da Liga, ouvi um bocadinho daquela espécie de programa do Rui Santos, na SIC Notícias, onde estava chocado com os lamentáveis incidentes entre adeptos. Estamos todos, perceba-se. Mas dizer que só agora atingimos o limite é de alguém que não vê futebol nas bancadas há muito tempo. Eu explico:

Ir ao futebol na década de 90 era incomensuravelmente mais perigoso do que ir ao futebol nos dias de hoje. A violência era constante em todos os jogos, não só nos jogos grandes, e qualquer clube, de qualquer divisão, tinha uma claque organizada. E os confrontos eram constantes, talvez menos graves, porque a média etária, devido ao fenómeno recente que era o mundo ultra, era bem mais baixa do que a actual.

As claques dentro das quatro linhas

A violência nas bancadas é um problema grave, que já foi bem pior, mas que importa combater. No entanto, é ridículo procurar acabar com a violência nas bancadas ao mesmo tempo que se legitima a violência dentro de campo. E isto acontece todas as semanas, nos programas pós-jornada, independentemente das cores clubísticas. Discute-se a intensidade dos lances mas a intenção passa ao lado.

As claques e os dirigentes

O fenómeno das claques e a dimensão que atingiram fizeram delas as guardas pretorianas de alguns dirigentes. Confrontar uma claque é meio caminho andado para perder um apoio significativo. Actualmente, algumas claques assumem mesmo papéis preponderantes em alguns clubes, como acontece no Sporting, por exemplo, ou assumem uma vertente empresarial, como acontece com a principal claque do FC Porto.

As claques, a LPFP e a FPF

Não é a estas instituições que cabe resolver o problema da violência fora de campo, mas podem, pelo menos, procurar não oferecer as armas. Um jogo num estádio com uma zona envolvente como existe nos estádio do Algarve ou do Jamor é uma irresponsabilidade tremenda.

As claques e as leis

A lei das claques, aprovada em 2004, é a tentativa de resolver por decreto o que não se resolve por decreto. A ilegalização das claques que não estejam registadas por lei só teve um efeito: Aumentar a tensão com as forças de segurança, obrigadas a cumprir - mais - uma má lei. Obviamente, não é por uma claque não estar legalizada que os seus membros deixarão de ir ao estádio, exactamente no mesmo local de sempre, com as mesmas pessoas ao lado. A proibição de usar o símbolo da claque não resolve problema algum, apenas o esconde.
Ao mesmo tempo, uma claque que formalmente não existe, que não pode ostentar os seus símbolos, torna-se muito mais difícil de ser controlada pela polícia. Evidentemente, não são as claques que devem ser sancionadas pelos desacatos, mas sim os elementos que os praticam. A lei das claques prevê a videovigilância nos estádios para que os prevaricadores sejam identificados. Depois, é uma questão de justiça, não é de futebol.

As claques e o Dias Ferreira


Dias Ferreira disse há pouco na SIC que é necessário diferenciar as claques legalizadas das não legalizadas. Segundo o sportinguista, "as que não estão legalizadas, não entram no estádio". Ora, seria prático e fácil de resolver se as claques fossem, sei lá, um guarda-chuva. Um guarda-chuva fica à porta, uma claque que não existe legalmente, não é legalmente uma claque, é um grupo de adeptos que, por coincidência, assiste ao jogo na mesma curva e entoa os mesmos cânticos.

Eu e as claques

Já pertenci, ainda que de forma não oficial, sem cartão, a três claques. Abandonei-as por motivos pessoais. Conheci boas e más pessoas. Vi alegria, dedicação, festejos, tristezas e violência. Basicamente, vi tudo aquilo que vejo todos os dias fora das claques. Basta ligar a tv ou o computador. As claques por si só não são um mal e muito menos são um caso de futebol. Delas fazem parte pessoas que são um problema de polícia e de justiça.

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