segunda-feira, dezembro 27, 2010

Carta a Hamad bin Khalifa, Emir do Qatar.

Caro senhor Khalifa:

Escrevo-lhe a partir de Leça da Palmeira para dar-lhe os parabéns pela escolha do Qatar para organizar o Mundial de 2022. Saúdo particularmente o facto de a generalidade da Imprensa não ter condenado a atribuição de tal evento a um país como o que V. Ex.ª tão democraticamente dirige, ao contrário do que aconteceu com os Jogos Olímpicos na China. Mas certamente que nos dez anos que nos separam do evento contará com uma onda de indignação patrocinada pela Amnistia Internacional, até agora tão sossegada.

Certamente que o facto de o país de V. Ex.ª ter petróleo e gás natural até dar c'um pau é mera coincidência, mesmo estando nós a falar de um país onde não há leis, para além da Lei de V. Ex.ª, regendo-se por uma Constituição provisória desde 1970, onde não são permitidos partidos políticos ou eleições. Confesso que me faz um bocadinho de espécie V. Ex.ª não permitir o amor através do rabinho, mesmo entre adultos e por mútuo consentimento. O amor não deve ser condicionado, seja sob que forma for.

Caro Khalifa, pá - vamos tornar isto um bocadinho mais pessoal, seu democrata -, apesar de seres dono e senhor de um país que está um bocadinho acima do Irão no Índice Democrático, safas-te por seres mais aberto que os vizinhos da Arábia Saudita. Ainda por cima não fazes parte do Eixo do Mal, seu sortudo, mesmo patrocinando o Hamas em 50 milhões de dólares.

Digo-te já que se não alterares aquela lei que controla o acesso ao álcool vais ter sérios problemas com os amantes do futebol. Isto para não falar no mulherio que por lá andará a pecar como se não houvesse amanhã. Por falar nisso, acho que devias reconsiderar a construção do Estádio Al-Khor, que tem a forma de, vá lá, uma pombinha. Ou de uma vagina, pronto, esse ponto do pecado que as mulheres transportam de um lado para o outro como se fosse delas.

Sei que vais construir 12 novos estádios e foi esse motivo que me levou a escrever-te. Temos em Portugal cinco estádios semi-novos que podes levar para a tua terrinha. Coimbra, Leiria, Faro, Bessa, Aveiro estão praticamente novos e por utilizar. Deste modo, pouparias umas esmolas com o pessoal que vai para o teu país com promessas de enormes salários mas que chega aí e é xulado à força toda.

Posto isto, tens sorte em não ser chinês e em não te afirmares comunista. Não procurei fotos tuas mas terás certamente uns lindos olhos, para que ainda, e apesar de tudo isto, não tenhas sido crucificado na praça pública. Crucificado sem ofensa, claro.

Fico a aguardar resposta ASAP.

Teu,

RMS

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Agora a sério, feliz natal

As notícias de que os portugueses gastam milhares de milhões são cíclicas. Normalmente, aparecem por altura do Natal, juntamente com estudos que dizem que comer como se não houvesse amanhã não faz mal, o chocolate emagrece, o bolo-rei tem pouco açúcar e por aí fora.
Centrando-me no primeiro tema, seria interessante saber quanto é que os portugueses movimentam nos outros meses do ano; por outro lado, seria ainda mais curioso perceber quantas das pessoas não aproveitam o subsídio de natal - os que ainda o têm - para pagar contas que ficaram em atraso durante o resto do ano. De outro modo, tenho todo o direito e mais algum de achar que é uma notícia filha da puta, que visa atirar areia para os olhos dos portugueses, fazendo-os crer que os vizinhos não sofrem com a crise.

Por falar em crise, anda por aí um senhor famoso por causa do bolo-rei que se vangloria de ter concedido aos pensionistas o 14.º mês. Ora, convém dizer que faz tanto sentido dizer uma coisa destas, como dizer que foi Cavaco que permitiu o associativismo na PSP, por exemplo. Uma coisa como a outra não foram benesses, foram fruto de muitas e muitas lutas de milhares de trabalhadores que não se resignaram e fizeram valer a sua vontade.

O mesmo senhor, que afirma nada ter a ver com o BPN, ajudou o governo do PS a oferecer ao BPN mais do dobro do valor disponibilizado por Sócrates para combater a crise. Dos 2,2 mil milhões de euros disponibilizado, um terço foi para o sector bancário e o tremendo 1 por cento ficou para o apoio ao emprego. Portanto, quem criou a crise é ajudado; quem a paga, que se foda.

E quem a paga somos todos nós, incluindo aqueles a quem roubaram 15 euros no salário de Janeiro, incluindo estas trabalhadoras da Eurest, despedidas e/ou com processos disciplinares, por, imagine-se, levarem para casa restos de comida. Refira-se que a Eurest é propriedade do Compass Group, que apresentou, em 2010, os seguintes resultados:

"We have delivered another year of strong performance, despite the challenging economic conditions, with record operating profit of over £1 billion and a return to organic revenue growth. Our ongoing focus on operational efficiency has enabled us to both invest in future growth and deliver another increase in the margin of 40 basis points".

Percebe-se, portanto, que a Eurest não possa pagar aos seus empregados de forma a que não tenham de levar sobras para casa. Ou então são só uns filhos da puta.

Fiz questão* de escrever aqui, com as letras todas, o que me apeteceu, como também me apetece mandar para a grande puta que pariu os senhores, sejam eles quem forem, que decidiram censurar o Zeca, numa alegada homenagem, porque acham que "merda" é feio.

Posto isto, continuemos a luta, sem que tenhamos de chegar ao desespero.

Feliz natal.



* tenho um leitor!

Natal

Há duas alturas do ano que não suporto: uma é o Natal, a outra é o Natal outra vez. Fica tudo maluco à procura de presentes e mais presentes, até para aqueles que estão ausentes, mais os telefonemas de ocasião, mais os postais, mais os mails, mais os postais dentro dos mails.

Não há maior hipocrisia que o Natal, mais a merda das campanhas para dar esmolas a quem tem de sobreviver o ano inteiro, muito para além da noite de 24 para 25 de Dezembro, sem contar com as outras campanhas, que dão esmolas a troco de 50% nos lucros, mais os sms, mais o resto todo. Mais as luzinhas nas ruas e o boneco da Coca-Cola a subir pelas paredes e o menino jesus de olhos em bico nas janelas.

Sou oficialmente contra o Natal. Encerrem-me, pronto.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

De despedimento em despedimento, até ao despedimento final!

Soubemos ontem pelo patrão dos patrões que, umas horas mais tarde, o Conselho de Ministros aprovaria 50 novas medida de combate à crise. A UGT não desgosta da coisa, que inclui um valor máximo para o valor das indemnizações aos trabalhadores despedidos.
É preciso saber quem manda em quê e em quem.