segunda-feira, janeiro 09, 2012

"Angelada", o mentor de Passos Coelho

No segundo governo liderado por Pinto Balsemão, em 1981, Ângelo Correia e Carlos Encarnação foram, respectivamente, ministro da Administração Interna e secretário de Estado da Administração Interna. Seis dias após ter tomado posse, Ângelo Correia delegou no comandante-geral da PSP, entre outros poderes, colocar oficiais, comissários, funcionários de secretaria e exonerar agentes da Polícia. O VIII governo constitucional durou pouco mais de um ano, mas Ângelo Correia ficou para a história pelos ataques à democracia levados a cabo na Greve Geral de 12 de Fevereiro de 1982 e pelas cargas contra trabalhadores no 1.º de Maio do mesmo ano, que causaram dois mortos e dezenas de feridos.

O termo "angelada" ficou celebrizado por ter sido utilizado pel'O Jornal. No dia da Greve Geral, foram detidas três pessoas que nada tinham a ver com a Greve, mas foi suficiente para Ângelo Correia lançar um ataque à CGTP e ao PCP, dizendo que estava em marcha "um plano subversivo e desestabilizador tendente a alterar a ordem democrática". Nos três dias seguintes, o governo apresentou três versões diferentes dos factos, o que motivou a chacota da imprensa.

Sobre esta "inventona", como também ficou célebre, O Jornal escreveu: "Exemplos maiores de actuações lesivas da democracia, pelas quais deve ser responsabilizado o governo, a manipulação da rádio e da televisão e a "angelada" foram o prolongamento ideológico das bastonadas autênticas que a Polícia de Intervenção desferiu no Rossio, no próprio dia da Greve.

As celebrações do 1.º de Maio, no Porto, ficaram marcadas pela morte de duas pessoas e dezenas de feridos. O Governo Civil do Porto havia requisitado a PSP para a baixa portuense, sob pretexto de "proteger" a UGT. Nesse dia, a Polícia atingiu pelas costas um jovem de 24 anos e um outro, de 18, no maxilar.

Adaptação do livro "Sindicalismo na PSP - medos e fantasmas em regime democrático", da autoria de António Bernardo Colaço e António Carlos Gomes

Somos hoje governados pelo delfim de Ângelo Correia. Qualquer semelhança com ambientes repressivos 20 anos depois, é pura coincidência.

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