quinta-feira, janeiro 12, 2012

Quarto escuro*

Acabou, finalmente, o ano de 2011. O pleonasmo é forçado, mas confesso que estava ansioso. A verdade é que foi um ano muito, muito difícil para a generalidade dos portugueses, que foram chamados a escolher os deputados que queriam ver representados na Assembleia da República. Pelo meio, uns fugiram, de fininho, para França, na esperança para obterem mais estudos, numa premonição do que viria a ser a palavra de ordem do governo entretanto eleito: emigrai. De perto, seguiu-se a família de uma cadeia de hipermercados, que vai pagar menos 10 por cento de impostos, mas na Holanda. Fica o aviso: na Holanda vai deixar de ser permitido vender produtos derivados da cannabis a estrangeiros.

O povo escolheu quando não sabia o que ia escolher. O pacto de agressão do FMI já estava alinhavado e faltava aplicá-lo. O povo escolheu, pois, de olhos vendados, às escuras, enganado pelos apelos da resignação e da inevitabilidade.

Com a agressão externa de que o país está a ser vítima, está em marcha a privatização de tudo o que são serviços públicos e daquilo que deve ser o Estado. Daquilo que o Estado tem obrigação de dar a quem paga impostos. Curiosamente, este Estado é o mesmo que não quis tributar dividendos de accionistas dos grupos
cobrados em bolsa, no ano passado.

Sendo realista, a pior notícia de 2011 foi o início de 2012. A menos que o povo saiba travar o retrocesso. E há duas formas de travar; ou se trava parado à espera do impacto ou se trava avançando. Com confiança.

*Publicado, originalmente, no jornal Notícias de Matosinhos

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