quinta-feira, outubro 04, 2012

Censura e Greve Geral - uma orgia em forma posta

Conta-se aqui que quando uma minhoca olha para um prato de esparguete pensa: "olha, uma orgia"!

O que sucedeu nos últimos dias foi mais ou menos uma orgia. CDS e PSD mais ou menos enrolados e o PS naquela situação confortável de "agarrem-se se não eu mato-os". Pelo meio, manifestações gigantescas, umas inorgânicas, outras convocadas pela CGTP. A segunda, levou a observações ao minuto e acompanhamento de tuiteiros de sofá que afirmavam que, segundo as imagens aéreas, a CGTP não tinha conseguido encher o Terreiro do Paço. Depois calaram-se, porque a realidade superou a ficção.

Entretanto, após a polémica da TSU, que o PS cavalgou para reclamar a vitória no recuo do governo - desvalorizando as acções de massas -; o PS voltou a ser igual a si próprio: o partido da rosa. De esquerda, só tem a mãozinha com que aparece nos boletins de voto.

Impressionante mesmo é a forma como, em duas semanas, a moção de censura que o PS colocou em cima da mesa deixou de fazer sentido, quando foram apresentadas outras duas, uma delas pelo PCP. Segundo o líder parlamentar Carlos Zorrinho, "as moções de censura só fazem sentido quando são para derrubar um governo". Portanto, Zorrinho acreditava mesmo que o CDS seria um partido com princípios e abdicaria dos lugares de governo. É enternecedor, mas também é de um a credulidade chocante vinda de alguém há tantos anos na vida política. 

Para o PS, o roubo de um salário só seria mau se fosse conseguido através da TSU. Uma moção de censura contra o roubo de mais de um salário através do IRS, do IMI, ficará para "análise depois de aprovado o Orçamento de Estado de 2013", segundo a eurodeputada Edite Estrela.

Sintomático do limbo em que se encontra o PS foi a sua abstenção (violenta?) nas moções. Mais; o PS doeu-se mais pela apresentação das moções do que o próprio governo. Apesar disso, nas intervenções durante a manhã de hoje, a bancada do PS teceu duras críticas ao governo. Mas depois absteve-se.

Refira-se que no texto da moção do PCP, apenas há duas referências ao PS, que passo a transcrever:

"O Governo PSD/CDS intensificou - a partir da aplicação do pacto de agressão que constitui o memorando assinado por PS, PSD e CDS com a troica estrangeira - uma violenta ofensiva contra os trabalhadores, o povo e o País, que se prepara para acentuar na proposta de Orçamento do Estado para 2013."

 (...)



"Os 36 anos de política de direita, aplicada por sucessivos Governos, mesmo depois de prometerem mudanças que nunca fizeram, levaram o País à situação em que se encontra. A aplicação do pacto de agressão - subscrito por PS, PSD e CDS com a troica, com o apoio cúmplice do Presidente da República – é o cerne da política do Governo. A rejeição do pacto de agressão, a derrota do Governo PSD/CDS são indispensáveis para abrir caminho a uma verdadeira mudança de política, que não se basta com a eliminação pontual de medidas ou com a alteração da forma como são apresentadas ou aplicadas."

Não sei se o PS pretenderia colocar-se à margem do memorando. Mas foi assinado pelo partido, pelo que qualquer referência ao mesmo obrigaria à inscrição da sua sigla. Antes não fosse assim. 

Surgiu pelo meio da confusão a reclamada e mais que justa greve geral da CGTP, à qual Proença e a sua central, UGT, disseram desde logo que não. O desemprego não lhe afecta a barriga, os baixos salários também não. O facto de os trabalhadores terem os seus rendimentos ao nível de 1999 não lhe faz confusão.

Já não espanta a mim, que vou a caminho das três décadas, deve espantar ainda menos os mais velhos e os mais atentos. Pode ser que volte a perder tempo com esta organização criminosa mais lá para a frente. Criminosa, sim, para com aqueles que tem o dever de defender.

Ficamos pois, com duas tarefas árduas, às quais já estamos habituados: combater a pressão dos patrões e a desinformação da UGT para que seja uma grande greve geral.

Uma palavra ainda para o CDS, que tenta a todo o custo passar por entre os pingos da chuva mas acabou com Paulo Portas encharcado, depois da intervenção de Honório Novo

Nós estamos a fazer história. E voltaremos a fazê-la no dia 14 de Novembro.

E só há dois lados nesta barricada. "Se o governo não ouvir os trabalhadores a bem, irá ouvir os trabalhadores a mal".

 
O nosso pai era um sindicalista,
Um dia serei também.
O patrão demitiu o meu pai,
O que vai a nossa família vai fazer?

Venham todos os trabalhadores,
temos uma boa notícia
Vou dizer-vos como o Sindicato 
está aqui de pedra e cal.

Refrão:
De que lado estás?
De que lado estás?

O meu pai era mineiro
e eu filho de mineiro sou
E estarei com o sindicato
até que todas as batalhas terminem.

Dizem que em Marlan não háneutralidade,
preferes ser um sindicalista,
ou um cão de fila para J.H Blair?

Trabalhadores, conseguem suportar isto?
Diz-me se serás um rato,
ou serás um homem?
 
Não creiam nos patrões,
Não ouçam as suas mentiras
Somos gente pobre,
não temos futuro 
se não nos organizamos.
 
 

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